“Honramos as origens e aqueles que vieram antes,
pois eles são o motivo de estarmos aqui hoje.”
Convita
Estamos em maio. Superamos mais um mês de distanciamento social. A comunicação em quarentena se fez mais do que nunca necessária e meio de conexão primordial entre as pessoas. Porém sabemos que não todos conseguem se integrar nas redes de comunicação. O risco é, se não cuidarmos disso, que aqueles que estão às margens, fiquem esquecidos. Estamos falando da terceira idade.
Queremos cuidar disso. Pensamos então em convidar o nosso parceiro Convita para um projeto especial entre gerações. Para quem não sabe, o Convita é um centro de convivência criado no Patronato Assistencial Imigrantes Italianos com o intuito de prestar um serviço para a comunidade italiana em São Paulo, com foco no bem-estar da terceira idade, acolhendo aqueles que, de alguma forma, se conectam com a nossa cultura.
Nesse momento desafiador, o Convita continua assistindo as pessoas idosas atendidas pelo serviço. Eles criaram estratégias para que todos continuem sendo acompanhados em suas demandas, seja por contato telefônico ativo, ou através dos aplicativos. Por exemplo, eles organizaram uma programação especial de atividades que acontece diariamente no grupo de WhatsApp, diminuindo os efeitos do isolamento social e reforçando os afetos construídos entre os integrantes do grupo ao longo desses anos.
Por todos esses motivos, achamos importante organizar um projeto especial entre as duas entidades para fortalecermos esse propósito. Será uma “trocação” de histórias entre gerações, onde convidaremos os nonnos e nonnas para se conectarem conosco, resgatando o prazer COM A VIDA através de suas memorias.
A ideia foi pedir aos idosos do Convita para que contassem aos nossos alunos histórias do coração, do aconchego, sobre a vinda deles ao Brasil, a infância. São retratos de vida. “Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser completamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis.” Assim dizia Italo Calvino, e essa será a brincadeira que estamos propondo para os nossos alunos.
A partir dos contos dos idosos, os jovens poderão criar novas narrativas, entre a realidades e a imaginação. O desafio lançado ao aluno como atividade didática será recontar os “retratos de vida” a partir de desenhos, textos próprios, vídeos, enfim, algo que os inspire. Essa seria a primeira troca no resgate da memória dos idosos. Ao receber esses materiais, eles poderão “se ver” e reconhecer nas histórias dos nossos jovens, na criatividade dos alunos em se relacionar com a italianidade.
Queremos com isso reforçar o elo entre Montale e Convita. Dos jovens aos idosos, trocando histórias de vida. Contando vivências da imigração italiana em São Paulo, com o olhar da antiga geração, e contando o sentimento de ser um jovem da nova geração de 2020. Essas trocas serão recolhidas pela contadora de histórias Cris Velasco, que junto com a sua personagem Vó Nenê, irá fazer uma curadoria e recontar trechos, reelaborar por sua vez e integrar criativamente, com bom humor, os relatos, explodi-los inteiramente em fantasia, narrar com áudio esses contos, que serão disponibilizados via digital para os idosos e para os jovens. A vovó simpática e brincalhona foi convidada inclusive para trazer afetividade, gerar momentos lúdicos e que nesse momento se fazem necessários.
Do ponto de vista pedagógico, essa iniciativa é muito significativa. Contar histórias coloca o estudante como protagonista da própria formação, uma vez que todo o conhecimento deve ser construído sobre a base de uma reflexão pessoal. Histórias essas que reforçam a identidade e o diálogo entre várias culturas, em especial a italiana e a brasileira, visando o resgate da memória. E permite o desenvolvimento pleno do aluno, envolvendo-o e estimulando-o a participar ativamente de ações formativas através de atividades culturais, ambientais e de integração social junto à terceira idade.
Para as pessoas idosas, este projeto envolve os aspectos da geratividade, conceito que dialoga com a importância de “passar o bastão” para as novas gerações, tornando eternas as histórias e memórias daqueles que contribuíram, e continuam contribuindo, para o desenvolvimento da nossa sociedade.
Recebemos já alguns depoimentos, em vídeo, áudio e texto. Retratos de vida tocantes, eles nos fazem rir, chorar, acalentar, encorajar, transformar. Nosso desejo como Escola é que através da criatividade e da fantasia não se faça esvanecer a memória e o essencial, como escreveu Jorge Luis Borges, “a memória é o essencial, visto que a literatura está feita de sonhos e os sonhos fazem-se combinando recordações”. Esse é o nosso desafio com “Histórias do coração entre Itália e Brasil”.
Sandra e Paolo Papaiz, presidentes Montale e Convita.